O tempo faz destas coisas à vida

"Há já muito tempo que não escrevo um poema"
E não me tem feito falta alguma
Tenho acumulado, neste bloqueio de estro, dias vazios
Leveza nos ossos, espasmos no tempo e folhas em branco
E já são tantas
Que podiam causar-me diferença
Nos braços cruzados sobre a barriga à míngua de letras
Ou na fome de as escrever
Sobre qualquer coisa muito açucarada.

Quando o tédio da vida corre diabético nas veias
O melhor é não escrever indigestões
E adoptar uma dieta de versos.

"Há já muito tempo que não escrevo um poema"
Tenho acumulado folhas em branco
E dias vazios, imaculados
E são tantos
Que se os escrevesse agora, já fora de prazo
Tinha de joga-los no lixo com as letras amarrotadas
Impróprios ao consumo de quem têm muito apetite.
O tempo faz destas coisas à vida e ao poema também.

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