Nos braços da madrugada

A noite cai lenta e macia
Sobre a tapada
Cobrindo o brilho do dia
Assim, calada…

Calada

Seduz a curva da estrada
Que à frente fluía  
Tão longa, tão fechada
Assim, morria… 

Morria

Na acidental filantropia 
De um pinheiro
Onde a vida se escondia  
Assim, calada…

Calada

Não há vidros partidos
Nem lágrimas
Nem gritos sofridos
Na face de uma folha caída
Seca e morta à beira da estrada

Tão calada…

A noite caía lenta e macia
Sobre a tapada
Cobrindo o brilho do dia
Assim, calada…

E morria
E gritava
E chorava
Nos braços da madrugada.

Só isto importava
Mais nada…

Mais nada.


Costa Da Silva

Ninguém dá por nada

O pólen da nossa flor
Cai dos dedos
Enquanto o sol se deita
No precipício de nós
E morremos gelados
Entre tempos relógios
Que separam homens.

Vermelho sangue
Corta-se a carne.
Enche-se o copo
Bebe-se até ao fim.

Letras cansadas.
Arde âmbar incenso  
No fogo da manhã
E hoje é o nosso ar
Espalhado nesta sala
Que servirá os mortos.

Fecha-se a carta
Quem escreveu, escreveu
Vira-se a página
E sente-se a vibração na pele.

Uma rosa entre palmas
A Amália canta baixinho

E ninguém dá por nada
Bis
Bis


Costa Da Silva