Ninguém dá por nada

O pólen da nossa flor
Cai dos dedos
Enquanto o sol se deita
No precipício de nós
E morremos gelados
Entre tempos relógios
Que separam homens.

Vermelho sangue
Corta-se a carne.
Enche-se o copo
Bebe-se até ao fim.

Letras cansadas.
Arde âmbar incenso  
No fogo da manhã
E hoje é o nosso ar
Espalhado nesta sala
Que servirá os mortos.

Fecha-se a carta
Quem escreveu, escreveu
Vira-se a página
E sente-se a vibração na pele.

Uma rosa entre palmas
A Amália canta baixinho

E ninguém dá por nada
Bis
Bis


Costa Da Silva

2 comentários:

Filipe Campos Melo disse...

Uma das recorrentes exuberâncias de teus versos, já o tenho dito, é a profundidade do que se diz e a forma como a mesma é dita

Esse traço sempre me seduz (talvez porque me identifico absolutamente nos versos), sempre me trás e me faz ficar, longamente, na tua poesia

"Letras cansadas.
Arde âmbar incenso
No fogo da manhã
E hoje é o nosso ar
Espalhado nesta sala
Que servirá os mortos."

Gosto muito de te ler
e de divagar em teus versos

Abraço

Suzete Brainer disse...

Percorrer pelo teu rico universo

poético,que tem vários estilos

(pseudônimos) e sempre na expressão

da excelência poética,que nos

emociona e nos encanta... E para

mim,a sensação de alegria ao

contactar com esse grande

poeta tão próximo.

Bjo.