Artificial

Pássaros que voam livres
Jamais contentam-se ficar
Iguais e imóveis como gaiolas
Cárceres de um só lugar

Respirar é para os que vivem
Condição em nada artificial
Ilusão da qual não dependem
Voar, é-lhes pois natural

Presos, lembram flores de plástico
Ilesos sim, mas são pesos mortos
De vida frágil e curta nos corpos

Cadafalsos e carrascos de ferro
Derrotados pairam todos sobre mim
Descida, pássaros que penam, enfim.

Um quarto sem janelas

Porta aberta. A vida é um quarto sem janelas
As paredes cheias de fotos de gente famosa
E de telas de pintores consagrados

A porta aberta. Antecâmara da solidão
Entrei a medo sem saber ao que vinha
Sem saber quem era e o que esperavam de mim

Ao acordar tudo brilha como novo
E o mundo tem gosto de primeira vez
O que aprendi do mundo
Foi com o que me puseram à frente
Com a realidade exposta nas telas e nas fotos que via
E que aceitei como minha
Porque parecia mal fazer perguntas

A vida é um quarto sem janelas
É a solidão de ter dúvidas sobre os enfeites nas paredes
Ter de aceitar fotos e telas como realidade
E ainda assim, viver num quarto com janelas.