Castelo de areia

Castelo de areia ou pedaço de praia
Rebentação ou onda do mar
Destruição ou renovação existencial

Tudo o que de algo se forma é só pensamento
E eu, de longe, sentado a olhar para ele
Com o apreço que se tem a um irmão
Que por ser meu, quero-lhe bem

Vou só comprar cigarros e volto já
Isto é o que a minha vida disse à morte
Ao sair de casa, tudo é ânsia e vontade de fumar
Mas o caminho é um prado de muitos verdes 
E, sem pressa, perco-me a olhar para ele
A sua forma e as suas cores, não passam de pensamentos
E o tempo que me demoro, não dura mais do que uma estação     

Mente ou quintal da consciência 
Eu ou o sopro da humanidade

Redenção 
A beleza das coisas é uma janela aberta para o infinito


[...]

O destino não é o cais

Mar…
O destino não é o cais
O destino mar, é o barco
Pois que o cais é de chegada e é de partida
É tão destino como é origem
Só o barco, por vontade ou por impossibilidade, pode ficar
E tu mar, tu és a vida
E eu, viagem.

Se o mar não tiver ondas, ainda assim é mar
Mas as ondas, por si mesmas não existem.
A onda é destino, viagem
Manifestação de uma entidade que a própria desconhece
E do instante em que se afirma onda
Não é mais nada, até se desfazer de novo em mar
Depois, mesmo sendo da mesma água, já outra onda
É, para ela, a primeira vez que é onda e viagem.

Mar…
O destino não é a praia
O destino mar, é a onda
E tu, tu és a vida
E eu viagem.

Lembrar-me da chuva não chega

A chuva nasce na pele da terra
Que nasceu no umbigo do universo
Que nasce na menina dos meus olhos
E de repente, isto é tudo o que me lembro.

Já andei à chuva muitas vezes e molhei-me sempre
E molhar-me sempre que chove é o propósito de andar à chuva
É forma de comunicar e sentir
É como ouvir com atenção a história de alguém que já viveu muito.
Molhar-me, é uma conversa íntima entre a chuva e a minha pele
E aquilo que a chuva me conta deve ser bom de aprender
Pois que a sensação não incomoda, nem é de frio
Mas é antes de calor e conforto de um abraço maternal

E de repente, dá-me saudades do beijo da minha mãe
E lembrar-me da chuva não chega
Ouvi-la bater contra o vidro é pouco
Vê-la cair é querer mais
E tenho que sair para a rua e senti-la na pele.

Para conhecer o mundo de verdade
Preciso misturar os sentidos com a realidade
E sentir a existência e o sentido de tudo
E fazê-lo, é uma forma de amar a natureza.