Ser grande é não ter tamanho

As pessoas podiam ser grandes
Deviam ser, sem reservas, maiores do que o corpo que vestem
As pessoas deviam ser grandes
E ser grande é não ter tamanho.

As pessoas compram casas grandes, paredes meias com o corpo
Para mostrarem que o seu corpo é grande
E pensam que isso é importante

Mas somos todos pequenos por fora
E o tamanho que as pessoas pensam que têm
É só o tamanho das coisas que mostram
E coisas assim têm a alma pequena.

As pessoas compram casas grandes
Porque não sabem, que são maiores que as casas que compram.

As pessoas podiam ser grandes
E ser grande, é não ter tamanho por dentro.

A segunda coisa mais estúpida do mundo

A segunda coisa mais estúpida do mundo é discutir com alguém por assuntos ou temas nos quais não acreditamos, além de ser uma tremenda perda de energia, reduz, ao tempo de vida útil no mundo de ambos os intervenientes, o tempo gasto na discussão, o que torna a segunda coisa mais estúpida do mundo, na coisa mais inútil do mundo.

Para que conste, a coisa mais estúpida do mundo, é o pensamento. Foi o pensamento, a coisa mais estúpida do mundo, que me levou à segunda coisa mais estúpida do mundo, a ideia exposta neste texto, que por sua vez, é a coisa mais inútil do mundo. O que me leva a pensar que estou a perder o meu tempo a escrever esta nota, também ela estúpida e inútil.

A coisa mais estúpida do mundo

A verdade, é que às vezes pela simples razão de dizer o que penso, sinto-me a pessoa mais estúpida do mundo. Por causa disto, outras vezes não o digo e, ao fazê-lo, sinto-me a pessoa mais estúpida do mundo, o que também é verdadeiro. De qualquer modo e para o efeito, é como se pensar e o simples processo de fazê-lo, fosse a coisa mais estúpida do mundo. Por esta razão, a de me sentir a pessoa mais estúpida do mundo, é que insisto na estupidez de continuar a pensar, e isto é simples e verdadeiro.

Metamorfose

É o meu pensamento que cria e oferece sentido aos dias.
Isto pode parecer uma ideia irracional e tola
Mas ao dia, sucede a noite e à noite, um novo dia 
E esta sucessão serve-me como prova, ainda que relativa.
Criei tudo o que foi criado e visto no mundo
E já imaginei tudo que ainda não se realizou
Se existe terra e mar, por exemplo
É porque moldei a terra e o mar em toda a extensão da mente
Sem nunca ter pisado nela, sem nunca me ter molhado nele
E nada ficou ao acaso, nada foi desconsiderado  
Pois sou deus, pensamento, senhor das limitações materiais.

O meu universo é uma totalidade cósmica acidental
Onde criei um mundo para morar igual à minha casa corpo
Porque o meu corpo é a minha casa
E nele existem pessoas que são pessoas crianças
Mágicas e eternas
Que conservam o dom da criação e imaginam mundos
Criativos e únicos como elas o são.

É a minha vida que dá vida ao mundo
Cada vez que abro os olhos
A vida transcende-me e permeia todos os mundos
Todas as pessoas
Tornando-me o deus das nossas limitações terrenas.
Metamorfose
Agora pensamento
Depois, existência.

Celebração

Existem dias que se colam à sola do sapato como merda de cão
Por mais que raspe com o pé no passeio
Que esfregue energicamente com a sola na relva do jardim do vizinho
O cheiro da merda paira onde quer que meta o nariz

Existem noites que parem o mesmo dia durante muitos dias.

Chuva de pedra e frio de gelo nos olhos defuntos
Vento nortada de passos sem norte que vêm para sul
Celebrar a festa dos mortos no dia do meu aniversário

Mesa posta, velas acesas e as cadeiras todas vazias
Só compareceu quem foi convidado, o único penetra, sou eu.
Existem dias que têm de ser celebrados todas as noites.