Nos braços da madrugada

A noite cai lenta e macia
Sobre a tapada
Cobrindo o brilho do dia
Assim, calada…

Calada

Seduz a curva da estrada
Que à frente fluía  
Tão longa, tão fechada
Assim, morria… 

Morria

Na acidental filantropia 
De um pinheiro
Onde a vida se escondia  
Assim, calada…

Calada

Não há vidros partidos
Nem lágrimas
Nem gritos sofridos
Na face de uma folha caída
Seca e morta à beira da estrada

Tão calada…

A noite caía lenta e macia
Sobre a tapada
Cobrindo o brilho do dia
Assim, calada…

E morria
E gritava
E chorava
Nos braços da madrugada.

Só isto importava
Mais nada…

Mais nada.


Costa Da Silva

4 comentários:

maria joão moreira disse...

muito, muito bonito! foi um prazer lê-lo e guardá-lo cá dentro.

Filipe Campos Melo disse...


Na berma do verso
Cai
Calada
A noite


"Não há vidros partidos
Nem lágrimas
Nem gritos sofridos
Na face de uma folha caída
Seca e morta à beira da estrada"

Um poema que toca demoradamente
pela fluência (nostálgica)
pela harmonia fonética
(oposta à desarmonia existencial que subjaz ao poema)
pelo tom (suavemente agreste)
pelo retrato (em decomposição composto) traçado pelos versos

Memorável

Abraço

Maria João Mendes disse...

A noite que cai e arrasta
A noite que abraça
A dor muda,

Como se as lágrimas já não soubessem escorrer do rosto.
Gosto sempre da tua poesia e de te ler,

Beijo

Suzete Brainer disse...

Esse belíssimo poema,me deixou

"assim,calada..."

Repleta de emoção...

"Só isto importava

Mais nada...

Mais nada."


Poema imenso,amigo!!

Bj.