...Guardo nos olhos o que me mostraste com a clareza dos teus, a beleza dos dias, depois, a tranquilidade das noites e esta sucessão como único milagre da existência do tempo e como ordem real da natureza e dos homens...
Realidade às avessas
Quando a imperfeição é a realidade, não existe nela a consciência da sua própria imperfeição. Quando, numa realidade imperfeita, surge algo para a aperfeiçoar ou corrigir, parecerá sempre que esse algo é um erro, imperfeito e irreal.
Eterna partida
Vivo como um desalmado, sem destino
Preso à dúvida e à incerteza de ser eu por onde passe
Sem retorno, sem a glória de poder partir
Porque partir é a supremacia de ser livre entre iguais
Não me importo quando, pois quando for
Será a noite e o dia, um só momento
Será clarão no peito alado de um cavalo multicolor
Que me levará, revelando a alma à qual pertenço
E saberei intimamente que aquela é a minha alma
Não por ela me pertencer, como qualquer objecto do meu apreço
Mas por ser todo o meu corpo que lhe pertence
Facto, que nem a minha mente poderá desmentir
Quando assim for, o meu corpo outrora vazio
Será um templo de adoração à natureza e aos homens
E onde quer que esteja, onde quer que chegue na vida
Poderei sempre partir até morrer, e em cada partida
Erguerei um altar para honra-la em glória e dizer que amei
E farei tudo de novo
Até que o amor seja o único sentimento
Presente em todos os lugares, em todas as partidas
Constante em todos os altares do meu corpo.
Preso à dúvida e à incerteza de ser eu por onde passe
Sem retorno, sem a glória de poder partir
Porque partir é a supremacia de ser livre entre iguais
Não me importo quando, pois quando for
Será a noite e o dia, um só momento
Será clarão no peito alado de um cavalo multicolor
Que me levará, revelando a alma à qual pertenço
E saberei intimamente que aquela é a minha alma
Não por ela me pertencer, como qualquer objecto do meu apreço
Mas por ser todo o meu corpo que lhe pertence
Facto, que nem a minha mente poderá desmentir
Quando assim for, o meu corpo outrora vazio
Será um templo de adoração à natureza e aos homens
E onde quer que esteja, onde quer que chegue na vida
Poderei sempre partir até morrer, e em cada partida
Erguerei um altar para honra-la em glória e dizer que amei
E farei tudo de novo
Até que o amor seja o único sentimento
Presente em todos os lugares, em todas as partidas
Constante em todos os altares do meu corpo.
19.06.16
enquanto existimos somos tão pouco, somos apenas um pouco mais do que nada, e isso é ser muito...somos o aroma que a nossa essência liberta em comunhão com o mundo...tocamos, sem realmente tocar, somos tocados, sem verdadeiramente o sermos, estendemo-nos fora de nós e do limite do que é físico, chegamos além do que compreendemos e a este alcance, chamamos sentimentos...somos o aprendizado que deixamos, o compêndio final do que fomos e que ficará no tempo, para ser lido quando não precisarmos dos olhos para ver...estamos e permanecemos agarrados à hipótese de existir sem nunca a experimentarmos, sem nunca nos testarmos por dentro...fora ela, a hipótese, somos tudo, tudo o que está fora da consciência da nossa acção e do seu alcance, todos a quem o aroma da nossa essência envolve e nos são perfeitos desconhecidos, o tudo que somos e não entendemos, e que só entenderemos, quando suprimirmos este desejo de ser a qualquer custo que nos cega o coração.
Fidelidade ao pensamento
Percorro
em pensamento as minhas memórias reais
Sigo,
com alguma dor, mapeando a terra onde mentalmente me vejo crescer
Faço-o
sem preconceitos, despido de formas concretas
De
normas comuns ao olhar desinteressado do mundo
Liberto
de ideais que formatam os homens
Da
educação que os engorda nas laterais do corpo
Floresta
concreta de sombras caídas
Tão
sólidas e profundamente enraizadas nos corações
Que
se tornam comuns à cidade e ao meu corpo
São
dias abraçados a noites com pouca força nos braços
São
homens que desistem de amar outros homens
E
deixam cair na sombra do ego o amor ao próximo e ao estranho
Porque
amam somente o que é seu
Procuro,
vestido de uma esperança propositada
Pessoas
incomuns que se interessem por pessoas incomuns
E
desejo que este interesse lhes seja comum
Convertendo-as
em pessoas comuns
Que
construam pontes entre estar vivo e viver
E
sejam, no futuro merecido da criança que sou
Arquitectos
de amor das paisagens naturais e humanas
Só,
entre canteiros de flores e árvores crescidas
Perco-me
pensamento plantado quando era luz e nasci
Envelheço
temporalmente por fora, banco, jardim, descoberta
Porque
a terra é fértil e convida a olhar
E
olhar para ela com inocência
É
aprender a viver na cidade
E
falar dela às pessoas
É
escrever poesia com a boca
Mas
é apenas e só
O
meu ar
O
meu sonho
A
minha ilusão.
Artificial
Pássaros que voam livres
Jamais contentam-se ficar
Iguais e imóveis como gaiolas
Cárceres de um só lugar
Respirar é para os que vivem
Condição em nada artificial
Ilusão da qual não dependem
Voar, é-lhes pois natural
Presos, lembram flores de plástico
Ilesos sim, mas são pesos mortos
De vida frágil e curta nos corpos
Cadafalsos e carrascos de ferro
Derrotados pairam todos sobre mim
Descida, pássaros que penam, enfim.
Jamais contentam-se ficar
Iguais e imóveis como gaiolas
Cárceres de um só lugar
Respirar é para os que vivem
Condição em nada artificial
Ilusão da qual não dependem
Voar, é-lhes pois natural
Presos, lembram flores de plástico
Ilesos sim, mas são pesos mortos
De vida frágil e curta nos corpos
Cadafalsos e carrascos de ferro
Derrotados pairam todos sobre mim
Descida, pássaros que penam, enfim.
Um quarto sem janelas
Porta aberta. A vida é
um quarto sem janelas
As paredes cheias de fotos
de gente famosa
E de telas de pintores
consagrados
A porta aberta. Antecâmara
da solidão
Entrei a medo sem saber
ao que vinha
Sem saber quem era e o
que esperavam de mim
Ao acordar tudo brilha
como novo
E o mundo tem gosto de
primeira vez
O que aprendi do mundo
Foi com o que me puseram
à frente
Com a realidade exposta
nas telas e nas fotos que via
E que aceitei como
minha
Porque parecia mal
fazer perguntas
A vida é um quarto sem
janelas
É a solidão de ter dúvidas
sobre os enfeites nas paredes
Ter de aceitar fotos e telas
como realidade
E ainda assim, viver
num quarto com janelas.
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