Fidelidade ao pensamento

Percorro em pensamento as minhas memórias reais
Sigo, com alguma dor, mapeando a terra onde mentalmente me vejo crescer
Faço-o sem preconceitos, despido de formas concretas
De normas comuns ao olhar desinteressado do mundo
Liberto de ideais que formatam os homens
Da educação que os engorda nas laterais do corpo

Floresta concreta de sombras caídas
Tão sólidas e profundamente enraizadas nos corações
Que se tornam comuns à cidade e ao meu corpo
São dias abraçados a noites com pouca força nos braços
São homens que desistem de amar outros homens
E deixam cair na sombra do ego o amor ao próximo e ao estranho
Porque amam somente o que é seu

Procuro, vestido de uma esperança propositada
Pessoas incomuns que se interessem por pessoas incomuns
E desejo que este interesse lhes seja comum
Convertendo-as em pessoas comuns
Que construam pontes entre estar vivo e viver
E sejam, no futuro merecido da criança que sou
Arquitectos de amor das paisagens naturais e humanas

Só, entre canteiros de flores e árvores crescidas
Perco-me pensamento plantado quando era luz e nasci
Envelheço temporalmente por fora, banco, jardim, descoberta
Porque a terra é fértil e convida a olhar
E olhar para ela com inocência
É aprender a viver na cidade
E falar dela às pessoas
É escrever poesia com a boca
Mas é apenas e só
O meu ar
O meu sonho
A minha ilusão.

1 comentário:

Suzete Brainer disse...

Nuno,

Tão emocionada!...
Não pode existir um Poema mais belo
e sublime do que este!...
Assumindo a minha pessoa (singularidade) incomum,
somo a este sentir simples, despido de um Ego que não
o distorça na escuridão da multidão, fique guardado
no anonimato de uma irmandade:
"Que construam pontes entre estar vivo e viver
E sejam, no futuro merecido da criança que sou
Arquitectos de amor das paisagens naturais e humanas"

Muito grata por este momento de leitura!!!
Abraço de irmandade poética.