Os bons poemas são túmulos de quem os escreve

Ano após ano, década após década, século após século
Mesmo que transformados em fósseis pela eternidade
Serão mais que os ossos que suportam um corpo
Mais que o cajado do pastor de rebanhos
E mais que o pastor
Quando este ainda levava os pensamentos ao campo
E no campo dava-lhes a forma de rebanhos
E alimentava-os de natureza e de tudo o que via.
Mas, quando o pastor morreu
O cajado partiu-se e o rebanho perdeu-se no campo.

Depois do movimento artificial do universo
Da matéria dos corpos, dos prédios, depois da pulsação da cidade
E da respiração do campo
O que foi vida, morte, o que foi apenas pensamento revelado
Agora, é só o cemitério de tudo o que foi

Agora, a eternidade toca-me a ponta dos dedos
E encontro por acaso o rebanho espalhado pelas folhas do livro.


Nota: para Fernando Pessoa (Alberto Caeiro) e para o seu "O Guardador de Rebanhos"

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