Escrevo poemas no olhar das pessoas

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Escrevo poemas no olhar das pessoas.
Diz-me o copo que levas à boca
Que a força é mais uma dor por sentir

E o corpo quer-se assim anestesiado [omisso no tempo.

Segreda-me o cigarro que queima entre os dedos
Os dias são repetições anunciadas
Derrotas sobre derrotas, no peito acumuladas

E o futuro é um déjà vu por acontecer.

Mostram-me os olhos o cansaço impresso na alma
Páginas de vida ou uma resma de folhas em branco
Onde, são outros que ditam o que podes escrever
[o que deves viver.

Escrevo poemas no olhar das pessoas.
E querem-te o corpo assim anestesiado [omisso da luta
Porque o futuro é mais um déjà vu por acontecer.

O que é contemplar, senão olhar com o pensamento

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O que é contemplar, senão olhar com o pensamento.
Bater com as íris em todas as cores de um jardim
E senti-las, depois de entrarem no corpo e percorrê-lo por dentro
Nas terminações do meu cérebro, a construírem a paisagem por inteiro

E ter essa paisagem, misturada com a realidade das minhas sensações
Em texturas, em cheiros e em sons [como extensões da natureza
A reagir, energicamente, nos poros da pele.

Contemplar, é um dia de domingo no jardim, até ao pôr-do-sol
E senti-lo, absorvendo-lhe a energia, sem ter mais nada para fazer
Senão olhar com o pensamento.

A dor vestirá outras lágrimas

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Os sentimentos acabarão por encontrar abrigo noutras rosas
E perpetuar o sol sobre todos os jardins da Primavera.
A dor humedecida vestirá outras lágrimas
Marcará outras faces nos dias cinzentos, como diamante em bruto.

Nas folhas amarelecidas pelo tempo, ficarão as histórias
Os lugares comuns em que me perdi e encontrei
Mas onde nunca fui inteiro.

No término da força, no findar do pavio que alimenta a chama
O corpo acabará por cair e regressar à sua essência
Sem olhar para trás, a alma seguirá pela estrada da eternidade.

Reclamarei a herança da terra fria que me pertence.
Da vida, deixarei um legado de indiferença
Onde a maior desilusão que enfrentei, fui eu

Sempre estranho por fora, sempre distante por dentro
Sempre reflexo de labirínticos espelhos.

Renova-se o mundo nas tardes do meu olhar

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Caídas no chão, morrem folhas que o vento vai levando
E cada vez que o vento sopra e as leva para longe
Renova-se o mundo nas tardes do meu olhar

O velho transforma-se em novo
Levanta-se em frente aos meus olhos habituados
No ocaso dos dias, uma eternidade de cores e sentidos
Antes que tudo se torne velho de novo

Quando as folhas caírem novamente no chão
Secas e velhas como pedaços sépias de ontem
Haverá sempre um Outono depois de um Verão

Como ciclo aceite na natureza de tudo

Com um vento lúcido que sopre, que as leve para longe
E devolva sentido ao mundo, a estas tardes do meu olhar.

Leva o vento as palavras que não disse

I.

Leva o vento as palavras que não disse
Que pensei, que senti intensamente, mas que não disse.

Adiantei-me ao tempo neste poema incompleto
Escrevi amor nas ruas, em todas as paredes
Esperando que percebesses os sinais, os meus ais

E a distância entre pensar, sentir e não dizer.

II.

Descreve-me os teus olhos quando o vento sopra
Mostra-me o que escondes no peito, os teus segredos
Revela-me os teus íntimos desejos, porque desejo intimamente
Ser parte presente do teu corpo até ao fim do meu

E dizer-to para sempre.

III.

Perdi os teus passos e esgota-se a força dos meus dedos.

Cheguei tão tarde, com a chuva aos teus lagos
Terra quebrada pelos ventos quentes do sul.
Ainda draguei os mares, perfurei o céu, aglomerei as nuvens
O frio e o sentimento que me trouxe aqui

Mas pensei demais, demorei-me demais
E os lagos já estavam secos.

Descreve-me os teus olhos quando não me vêem
Sente o vento, as palavras que pensei, que senti imensamente
Mas que não disse.

Cada vez que assomo à janela e o vento bate assim

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Cada vez que assomo à janela e o vento bate assim
[fresco na cara
Ah, sinto o meu mundo todo estremecer, sinto um arrepio
[no corpo inteiro.

Das savanas de África aos néones de Tóquio
Tudo me diz quem sou e que o meu lugar é aqui.
Aquilo que sei de mim e do mundo, é porque não fui, indo
[porque nunca me esqueci.

Apesar de todas as viagens
Nunca chego a esquecer a transparência do que me leva

E as viagens são como o vento que bate fresco na cara
As partidas espontâneas, os percursos com todos os seus tesouros
Os regressos onde o pó do caminho se torna origem de novo.

Mas cada vez que assomo à janela, é sempre aqui que me encontro
Que estremeço e tenho esta certeza de fazer parte de tudo.

Palavras definem palavras

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Palavras definem palavras e mentes e formas disformes
Por assim dizer, distantes da palavra inicial.

Existem em mim, dissecando extensos e dispersos sentidos
Palavras expostas com acessórios de estilo
E existem de forma única em todos os meus compostos.

Palavras definem palavras, justificando a sua existência
Na aparência supérflua que as distingue
Da palavra decomposta

Pela singularidade e injusta posição dos plurais
Com os seus fatos feitos por medida.

No comprimento da palavra
Na fita métrica das sílabas
E nos outros que sempre me cabem

Sendo as palavras que os vestem, sentidas
Sendo as letras que as cosem reais
Existem de facto em mim.