Pássaros que voam livres
Jamais contentam-se ficar
Iguais e imóveis como gaiolas
Cárceres de um só lugar
Respirar é para os que vivem
Condição em nada artificial
Ilusão da qual não dependem
Voar, é-lhes pois natural
Presos, lembram flores de plástico
Ilesos sim, mas são pesos mortos
De vida frágil e curta nos corpos
Cadafalsos e carrascos de ferro
Derrotados pairam todos sobre mim
Descida, pássaros que penam, enfim.
...Guardo nos olhos o que me mostraste com a clareza dos teus, a beleza dos dias, depois, a tranquilidade das noites e esta sucessão como único milagre da existência do tempo e como ordem real da natureza e dos homens...
Um quarto sem janelas
Porta aberta. A vida é
um quarto sem janelas
As paredes cheias de fotos
de gente famosa
E de telas de pintores
consagrados
A porta aberta. Antecâmara
da solidão
Entrei a medo sem saber
ao que vinha
Sem saber quem era e o
que esperavam de mim
Ao acordar tudo brilha
como novo
E o mundo tem gosto de
primeira vez
O que aprendi do mundo
Foi com o que me puseram
à frente
Com a realidade exposta
nas telas e nas fotos que via
E que aceitei como
minha
Porque parecia mal
fazer perguntas
A vida é um quarto sem
janelas
É a solidão de ter dúvidas
sobre os enfeites nas paredes
Ter de aceitar fotos e telas
como realidade
E ainda assim, viver
num quarto com janelas.
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