Alguém inventou a luz

No início não havia o nada
Estava lá tudo
O verbo
O fogo, o ar, a água e a terra
Até os homens

Havia silêncio
E o verbo era respeito
Escuridão
E os homens eram um só
De mãos dadas
Para não caírem no tudo

Depois alguém inventou a luz
E acendeu-a
Sobre todas as coisas
Sobre todos os seres
Até sobre os homens

Então os homens puderam ver o horizonte
Abraçaram o desejo de tudo
E afastaram-se do mundo

Transformaram o fogo
O ar, a água e a terra
Até outros homens
Em verbo maltratado

E o nada nasceu
No coração dos homens.

1 comentário:

Suzete Brainer disse...

Nossa Nuno, sem palavras diante da imensidão deste
teu poema...
Magnifica construção poética de um conteúdo complexo,
mas tão bem abordado e explicitado numa inspiração
ímpar (a tua sempre é) o conhecimento filosófico
profundo da existência, com o desejo; o homem
vivenciou a dualidade junto com a insatisfação
(ciclo vicioso), quebrando a unidade com
o todo (divino).Como dizes magistralmente na
última estrofe: "E o nada nasceu
No coração dos homens."
Fico sempre encantada com a tua arte poética...
Quero te dizer o quanto fiquei feliz com a tua
presença amiga e belíssimo comentário no meu espaço.
Valorizo muito ser compreendida poeticamente e
filosoficamente por ti. Sinto que temos uma
sintonia, uma sintonia de irmandade...
Grande abraço de alma, Poeta (irmão)!