Poema e chuva

Enquanto, lá fora, chove despropositadamente
Tento escrever, nesta folha, um poema com muito propósito
Que seja algo mais que a explanação do pensamento
Mais que a resistência e que o atrito dos labirintos da mente
Tento escrever um poema que venha de dentro
E se cumpra inteiro, morrendo nos olhos de quem o lê

Se eu o escrever corpo, vida e cor
E me sentar à porta a olhar para ele
Será poema em tudo o que existe
Em tudo o que vejo, puro e livre, e aceito porque me é dado.
Sempre que o céu se curvar e tocar a terra
Por meio de brilho e chuva a salpicar as pedras
Desprender-se-á de mim sem choro e sem dor
Todo ele paisagem, perfeição e paz
Porque sendo céu, não é terra, e sendo terra, não é céu
Um equilíbrio que é bom de ver, sem que precise de pensar nele.
Ter-se-á então cumprido ao morrer-me nos olhos
Nascendo, sem esforço, no momento seguinte
Também ele, poema e chuva.

1 comentário:

Suzete Brainer disse...

Este poema ficou muito vivo

nos meus olhos,

com a emoção de sentir a

beleza sublime da sua missão...

Muito obrigada pela

partilha,Nuno!!

Abraço,grande poeta!