Se soubesse escrever
melhor os meus pensamentos
Se conseguisse traduzi-los
em palavras
Acompanha-los sem
entretanto perdê-los
Escreveria mais e
certamente melhores poemas
Injustamente para a
realidade do poema
Este conhece-me apenas da
noz, a casca rude e dura
E quanto ao miolo do
fruto, rico, nutrido
Fica todo para meu
proveito
Só eu posso aprecia-lo,
em puro acto egoísta
Contemplar-lhe a forma,
tocar-lhe a textura
Só eu posso imaginar-lhe
o gosto antes de trazê-lo à boca
E nesta realidade minha
faz-se justiça ao poema
Pois ao preparar-me
para comer o fruto, deixo caí-lo no chão
Perdendo-o irremediavelmente
Para o imenso abismo
que separa
O pensamento de qualquer
acção
Se soubesse escrever
melhor
Se conseguisse acompanhar
os meus pensamentos
Traria à realidade do
poema
Todo o espanto que
neles e em mim habita.
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