O plano

Têm-me dito, já muitas vezes
Que ando à deriva, que não sei o que quero fazer da vida
E que ando cá apenas a ver os comboios passar
Isto porque não tenho um plano ou um projecto para concretizar
Em resumo, têm-me dito, com convicção, que falhei
E que falhei com o acerto com que falha gente grande
(Falho comigo por falhar com o futuro)

Acho que só para andar por cá, deslumbrado como um menino
A experimentar o mundo, a ver beleza e novidade em tudo
Sem pensar amanhãs e futuros programados
Já valeu a pena ter nascido, chorado e aberto os olhos
E ter a consciência desta realidade
Vale mais que qualquer projecto de qualquer vida de sucesso

E há coisa melhor do que ver os comboios passar
Vê-los seguir com a vida toda que carregam dentro deles
E saber, sentindo, que tal como os comboios que passam
Também eu passo e levo a vida toda dentro de mim
E sigo leve e sem esforço pelo caminho da vida
Como seguem os comboios pelos carris
Até ao dia em que, por não conseguir continuar, irei parar
E o mundo terá de seguir sozinho
Porque o meu corpo, é só mais uma estação.

Se é estranho isto que digo
É porque a vida, é o que quero dela com o coração.
Ao falhar comigo, dispenso a obrigação de me cumprir
Ao falhar com o futuro, permito-me a não fazer planos
E realizo-me, assim, em cada momento que estou consciente.
Hoje,
Hoje,
É este o plano.

1 comentário:

Suzete Brainer disse...

"Também eu passo e levo a vida

toda dentro de mim"

Uma bela verdade em grande

poema...

"Porque o meu corpo,é só

mais uma estação."

A beleza da impermanência

das estações (vida)...

O plano é no hoje (agora)

com profundidade,desapego

e emoção...

Grata por este momento

de preciosa leitura,Nuno!!

Bj.